Economia em Tempos de Coronavírus: Uma Reflexão

Diz uma história, narrada por muitos sábios, que “um dia, um homem santo teve uma conversa com Deus e lhe perguntou: “Senhor, eu gostaria de saber como são o Céu e o Inferno.” Deus então o levou para diante de duas portas. Ele abriu uma das portas e pediu para que o homem santo olhasse para dentro. Havia uma grande mesa redonda. No centro da mesa havia um enorme recipiente contendo comida deliciosamente temperada e perfumada. O homem santo ficou com água na boca. As pessoas sentadas ao redor da mesa, eram magras, pálidas e doentes. Todos pareciam com fome. Eles tinham colheres com cabos longos, presas ao braço. Todos alcançavam o prato de comida e podiam pegar um pouco, mas como o cabo da colher era mais comprido que o braço, não podiam levar a comida até a boca. O homem santo tremeu ao ver a miséria e o sofrimento deles. Deus disse: “Você acabou de ver o inferno.”

Deus e o homem se dirigiram em direção à segunda porta. Deus a abriu. A cena que o homem viu era idêntica à anterior. Havia a grande mesa redonda e o recipiente que fez dar água na boca. As pessoas ao redor da mesa também tinham colheres com cabos longos. Desta vez, no entanto, eles estavam bem alimentados, felizes e conversando uns com os outros, sorrindo. O homem santo disse a Deus: “Eu não entendo!” “É simples,” respondeu Deus, “eles aprenderam que o cabo da colher não permite que você se alimente mas permite que você alimente seu vizinho. Então eles aprenderam a alimentar uns aos outros! Aqueles na outra mesa, por outro lado, só pensam em si mesmos. Inferno e Paraíso são os mesmos em estrutura.” Ou seja, a diferença está dentro de nós, no que somos e acreditamos!

Image by Arek Socha from Pixabay

Estamos vivendo um momento singular em nossas vidas, que nos tem requerido uma mudança em nossa postura e comportamento, seja em nossa esfera particular como coletiva. Estamos colocando à prova tudo que somos e acreditamos, sendo essa, a medida de nossa humanidade.

Nesse momento, tudo se reposiciona e ganha outra perspectiva. A vida precisa ser vista com olhos novos, assim como o que fazemos, o que queremos e como agimos.

E, dentre os muito desafios desse momento, temos o desafio de garantir a estabilidade econômica. Para que possamos fazer isso da melhor forma, é importante entendermos que não estamos diante de uma crise econômica, mas diante de uma crise com impactos na Economia. Isso faz toda a diferença. Assim que esse estado de suspensão passar, temos condições de retomar as atividades e produção, com a demanda e a oferta voltando, pouco a pouco, a patamares saudáveis.

É importante entendermos que não estamos diante de uma crise econômica, mas diante de uma crise com impactos na Economia

Mas essa retomada de forma saudável somente será possível se conseguirmos manter a Economia funcionando, e podemos fazer isso de forma artificial. Ou seja, se conseguirmos manter os empregos e as empresas pagando seus custos básicos para que possam se manter vivas, no estado de sobrevivência, garantiremos sua manutenção até que tempos mais favoráveis retornem.

Não estamos em tempo de acumulação e sim de distribuição. Precisamos entender que somos os agentes que promovem o funcionamento da Economia, com as nossas decisões. Se decidirmos com sabedoria nesse momento, sairemos dele com as menores sequelas. Não é momento de falarmos em crescimento, ou que a ausência de crescimento é prejudicial. Na natureza os tempos de expansão e de retração se revezam para que a vida floresça. Devíamos seguir esse exemplo de profunda sabedoria. A natureza e sua evolução está ao nosso redor para mostrar que essa forma de funcionamento garante a sua evolução. É hora de agirmos em modo piano, poupando energia e excessos.

A Grande Onda de Kanagawa, Katsushika Hokusai

No fundo do oceano as águas são mais calmas, na superfície está o mar turbulento e agitado. É hora de mergulharmos fundo, ficarmos o mais calmos possível até que a tormenta na superfície passe e possamos novamente navegar em mares mais favoráveis.

Assim, manter a Economia respirando e os empregos garantidos deve ser a base para desenvolvermos nossas estratégias de ação nesse momento. Por isso, fico muito feliz em ver muitas iniciativas que estão sendo tomadas nessa direção. Podemos ver muitas empresas distribuindo recursos para poder minimizar os efeitos desse período de estagnação.

Dentre tantas iniciativas, uma importante que gostaria de destacar e que vai ao encontro dessa estratégia de manutenção da Economia em tempos desafiadores é a que foi proposta pelo Sebrae, que prepara um Fundo de Amparo ao micro e pequeno empresário. Conforme dados do próprio Sebrae, as micro e pequenas empresas são as principais geradoras de riqueza no Comércio no Brasil, já que respondem por 53,4% do PIB deste setor. No PIB da Indústria, a participação das micro e pequenas (22,5%) já se aproxima das médias empresas (24,5%). E no setor de Serviços, mais de um terço da produção nacional (36,3%) têm origem nos pequenos negócios.

Como sabemos, e podemos também observar no mundo natural, o grande não sobrevive sem o pequeno, tudo está interconectado para que o todo sobreviva. Vivemos em um sistema no qual cada parte tem sua importância. Nesse momento de necessidades, quem pode mais deve apoiar quem pode menos, para que todos possam prosperar no longo prazo.

Segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, em reportagem de 31 de março no canal online da Jovem Pan, os indicadores do Sebrae “estão mostrando que 76% das micro e pequenas empresas estão sendo afetadas. Nosso receio é a paralisação da economia e uma retomada colapsada. O Sebrae está assumindo um papel de curador, estamos colhendo as propostas, mitigando os riscos para facilitar.”

E mais adiante completa: “Isso não retoma da noite pro dia, é preciso colocar capital de giro para que eles não parem, não vão à falência. Nesse sentido, estamos buscando medidas todas para dar relativo conforto.”

Ou seja, manter artificialmente a Economia funcionando, em um patamar mínimo que garanta sua sobrevivência, irá possibilitar que passemos por esse período de forma saudável. Assim como na prevenção ao vírus, precisamos ficar em casa, lavar as mãos e seguirmos sem encontros, festas ou aglomerações. Na Economia, se mantivermos essa mesma receita, não seremos afetados pelo vírus da recessão e ficaremos saudáveis depois que tudo isso passar. É momento de desapego.

Manter artificialmente a Economia funcionando, em um patamar mínimo que garanta sua sobrevivência, irá possibilitar que passemos por esse período de forma saudável.

Essa parada geral é a grande oportunidade que precisávamos para resgatar nossos valores humanos fundamentais e colocá-los em prática: Paz, para fazer tudo da melhor forma, no tempo e ritmo certos; Amor, para entender a dor do outro e agir com empatia e efetividade; Verdade, para entender o que está realmente acontecendo e buscar as melhores soluções; Retidão, para corrigir ações e decisões equivocadas tomadas no passado; e Não-Violência, para colocar em prática a solidariedade e reconstruir uma sociedade mais humana e feliz.

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